O INDIVÍDUO E SUAS RELAÇÕES NA CONTEMPORANEIDADE
É
interessante a reflexão que Zygmunt Bauman (2011) faz em vídeo, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=LcHTeDNIarU, acerca da temática laços humanos. Sobretudo, ao abordar a
questão da amizade na pós modernidade.
Na contemporaneidade, a amizade está pautada numa perspectiva quantitativa e não qualitativa. Toma-se como exemplo as amizades estabelecidas nas redes sociais, mais precisamente, as amizades do facebook. Neste cenário, nota-se a facilidade que se tem em fazer amigos. Quanto maior o número de amigos, mais o indivíduo está em evidência. Contudo, é como se ele estivesse sozinho em uma multidão, pois as relações são superficiais e desprovidas de um certo compromisso que se via na modernidade, cuja premissa era de poucos amigos numa relação intensa com foco na qualidade, na durabilidade. Agora, as pessoas se relacionam conectadas em redes e isto facilita o processo de rompimento dessas relações.
O rompimento de uma amizade moderna exigia do sujeito adoção de estratégias que muitas vezes funcionavam como instrumento de fuga para não encarar a realidade. Principalmente, falar sobre motivos aversivos que contribuíam para a separação. Assim, para evitar o contexto aversivo de uma discussão, de ter de dar explicações, a pessoa não mais entrava em contato, deixava de falar com a outra sem uma conversa que precedia o rompimento e muitas vezes mentia para minimizar a tensão nestas relações.
Já o rompimento de uma amizade contemporânea de facebook acontece de forma fácil e menos “traumática”, pois não exige do indivíduo desenvolvimento de estratégias e argumentos para justificar o fim. Uma vez estando em rede, basta se desconectar para promoção do afastamento ou conectar quando se deseja uma aproximação. Assim, o indivíduo aderiu ao ato de desconectar como estratégia de rompimento de relações, pois o método oferece a vantagem de romper sem precisar dar satisfações, desculpas e justificativas. Basta clicar e bloquear o outro. Seria um sair de cena sem se despedir, sem se fazer notar, ou seja, sair à francesa.
A facilidade de se fazer amigos em uma rede social contribui para que as pessoas, na contemporaneidade, não se preocupem com a manutenção e nutrição de uma relação e com a qualidade desta no processo civilizatório e de manutenção da existência humana. Quando se deseja um contato, verifica-se o status do amigo - se está online ou off-line. Manda-se uma mensagem, mas se o outro não desejar esse contato, não responde a mensagem e não se preocupa com justificativas. Assim, em contexto de relações superficiais de facebook e das redes sociais, perde-se um “amigo” e ganha-se outros. Basta um click, um convite aceito e uma conexão.
O perigo da cultura das relações pautada, apenas, nesse processo de conectividade, incide no campo do não fortalecimento da afetividade e da não promoção da empatia. Visto que, à medida que, numa relação, o outro não tem importância, que é considerado descartável, há um favorecimento para o exercício de atos em vários contextos de violência, de exposição negativa do outro, num ato perverso, onde se goza com o sofrimento alheio permeado por exposição, nas mídias, de imagens e intimidades como atos vingativos de dimensões psicológicas devastadoras para a pessoa exposta. Parece que o conceito de respeito à dignidade e condição humana, bem como a ideia de seres semelhantes, enquanto espécie homo sapiens, se perdeu no tempo e no espaço.
Assim, faço um convite à seguinte reflexão: o que o homem, enquanto um ser social, poderia fazer para promoção de relações salutares com seu semelhante e com seu habitat , na contemporaneidade?
E os processos que começam no mundo analógico e se estendem ao mundo virtual? Hoje, basicamente todos nossos amigos da vida cotidiana são também nossos amigos nas redes sociais. Como se dá essa relação híbrida?
ResponderExcluirPenso que cabe reflexão sobre a questão do excesso de exposição da intimidade em redes sociais. Mesmo que se trate de relação onde haja intersecção entre amigos do cotidiano e os virtuais.
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